Um projeto escolar de estudo da biodiversidade no Poceirão, concelho de Palmela, levou à descoberta de uma planta rara. A Elatine brochonii deixou excitados os biólogos e a autarquia até admite repensar o plano urbanístico.
Com um nome tão pouco comum como a própria planta, a Elatine existe em alguns locais de Espanha, Marrocos, Argélia e França e já uma vez tinha sido referenciada na zona da Arrábida, em Portugal, explicou à agência Lusa o biólogo Miguel Porto, da Sociedade Portuguesa de Botânica.
Só se desenvolve em charcos temporários, germina na água mas floresce no sequeiro e morre em poucos meses. Necessita de condições muito precisas e Miguel Porto admite que muito em breve estará em extinção.
A descoberta foi por acaso. No âmbito de um trabalho para o agrupamento de Escolas José Saramago, no Poceirão, Miguel Porto foi convidado a fazer um passeio com os alunos, mostrando-lhe a botânica da zona, e quando se ajoelhava para explicar como se distinguem os juncos deu “de caras” com a planta, que varia entre um e dez centímetros.
“Na altura disse que devia ser a Elantine e apanhámos um bocado. Fomos ver à lupa e de facto confirma-se”, explica o responsável à Lusa, no mesmo local onde foi feita a descoberta, um pequeno charco, agora quase seco, a escassas dezenas de metros da escola.
Miguel Porto não esconde a admiração pela existência da planta “raridade absoluta” no local, um charco que “até está um bocado degradado”.
Naturalmente porque ali encontrou as “condições precisas”, tão boas que até floresceu em muito mais quantidade do que em Valência, Espanha, onde as autoridades criaram uma micro-reserva para proteger a Elatine brochonii.
O responsável sabe que para o local está prevista uma urbanização, mas pela fragilidade da planta admite que mesmo que se preservasse os cinco metros de charco ela acabaria por não sobreviver.
Mas sabe também que agora que a planta foi descoberta em Portugal o país tem a “responsabilidade acrescida” da sua preservação. “Estamos a falar de uma espécie que provavelmente dentro de alguns anos poderá estar em risco sério mundial de extinção”.
O projeto escolar, “Poça, Pocinha, Poceirão”, foi desenvolvido pelos professores Rui Rego e Judite Mendes, biólogos, e com o estudo dos charcos procura-se, no âmbito do Ano Internacional da Biodiversidade (2010), despertar nos alunos o interesse pelo estudo das questões ambientais.
Foi assim que os alunos saíram das salas de aula para ver e estudar sapos, salamandras e cobras, aves e micro-organismos dos charcos. Este ano começaram nas plantas e “tropeçaram” na Elatine.
Rui Rego sabe que o terreno estará loteado e que se prevê a construção do comboio de alta velocidade (TGV), pelo que “é uma questão de tempo” o fim da plantinha rara. Admite que não virá grande mal ao mundo mas confessa que gostava de tempo para estudar a Elatine. “Será que há maneira de salvar estes 15 metros quadrados?”.
José Cruz Silvério, presidente da Junta de Freguesia do Poceirão, admite que pode haver. “Deve-se salvaguardar estas espécies, porque terreno há muito”, diz à Lusa, acrescentando que preservar a planta pode ser “uma coisa boa”, o que é possível, porque o loteamento ainda está em estudo.
Para já a planta lá está, num charco do Poceirão, agora já meio seca e tão pequena que parece um musgo sem importância. Mas depende de quem a olha: “para nós tem uma grande importância”, diz Rui Rego.